sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A CHAVE DA CURA ETERNA


Que observas tu
Nesta distância imensa
Que na verdade nunca
Nos separou
Perco de vista
Todas as realidades
Que me rodeiam
Sento-me no meio do nada
Sou apenas um ponto
Observando atentamente
O fascínio de tanto Mar
Tanta lágrima derramada
Sal da Vida dizem…
Sal que cura todas as feridas
Principalmente aquelas
Que estão no mais
Profundo do nosso Ser
Que são deixadas pelo inesperado
Que na verdade nada têm de surpreendente
A vida balança a cada minuto
Como se fossem ondas
A invadir as margens
Repletas de grãos de areia
Que muitas vezes foram
Os Castelos das
Nossas fantasias
Que existem em cada Coração
Deixando a espuma
Desaparecer suavemente
Nas paredes dos nossos desejos
Mais íntimos
Como de pequenas bolas de sabão
Se tratasse…
Colorindo os nossos sonhos
Ao mesmo tempo
Que se tornam mais Cristalinos
Tal como se fosse uma bola
De Cristal…Onde nos perdemos
Num suposto futuro
Construído através do nosso imaginário
Procurando o que o nosso
Interior mais apela
Para se fortalecer
Nada te impede!
És livre!
És Tu!
És parte de Mim!
O que te falta  meu Anjo?
Para empreenderes a tua missão?
Receio… Insegurança…
Amor não é de certeza!
Tu és Amor…
E não existem barreiras
Que o possam deter
Como vês
Seja qual for o ponto
Onde te encontres
Não existe
Distância que Nos separe
Apenas a Ilusão
Que estás só!
Mas não te assustes
Que este Mar
Em que te sentes mergulhada
É apenas AMOR
A CHAVE DA CURA ETERNA.


MERGULHEM NESTE MAR, PACIFICANDO TODO O VOSSO SER.

Fiquem na minha Paz

EU SOU A VOZ DO CORAÇÃO

EU SOU

MARLIZ

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Poema do Menino Jesus de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Desligue a música do Blog antes de fazer "Play" e ouvir a Maria Bethania a declamar este belo Poema

Num meio-dia de fim de primavera
Eu tive um sonho como uma fotografia
Eu vi Jesus Cristo descer à Terra
Ele veio pela encosta de um monte
Mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo
A ouvir-se de longe
Ele tinha fugido do céu
Era nosso demais pra fingir-se de Segunda pessoa da Trindade
Um dia que Deus estava dormindo
E o Espírito Santo andava a voar
Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três
Com o primeiro, ele fez com que ninguém soubesse
Que ele tinha fugido
Com o segundo, ele se criou eternamente humano e menino
E com o terceiro, ele criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras
Depois ele fugiu para o Sol e desceu
Pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje ele vive na minha aldeia, comigo
É uma criança bonita, de riso natural
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças d'água
Colhe as flores, gosta delas, esquece
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães
Só porque sabe que elas não gostam
E que toda gente acha graça
Ele corre atrás das raparigas
Que levam as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia
A mim, ele me ensinou tudo
Ele me ensinou a olhar para as coisas
Ele me aponta todas as cores que há nas flores
E me mostra como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.

Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro
Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda
Ao anoitecer nós brincamos
As cinco pedrinhas no degrau da porta de casa
Graves, como convém a um Deus e a um poeta
Como se cada pedra fosse todo o Universo
E fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair no chão

Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível
Ele ri dos reis e dos que não são reis
E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios
Depois ele adormece e eu o levo no colo
Para dentro da minha casa, deito-o na minha cama
Despindo-o lentamente, como seguindo um ritual
Todo humano e todo materno até ele estar nu
Ele dorme dentro da minha alma

Às vezes ele acorda de noite, brinca com meus sonhos
Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros
E bate palmas, sozinho, sorrindo para o meu sonho
Quando eu morrer, filhinho, seja eu a criança
O mais pequeno, pega-me tu ao colo
Leva-me para dentro a tua casa
Deita-me na tua cama
Despe o meu ser, cansado e humano
Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer
E dá-me sonhos teus para eu brincar.


Excerto do Poema de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)