domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ausência de Desejo



Conta-se que um grande místico vivia em silêncio e solitário, até que foi um dia, acordado por um anjo, um mensageiro de Deus. O místico esfregou os olhos e sentou-se para ver esta lindíssima angélica presença que estava mesmo à sua frente.

O anjo pelo seu lado olhou para os seus olhos e disse-lhe:

- Deus está muito feliz contigo. As tuas preces foram ouvidas e aceites e eu estou aqui para realizar os teus desejos. Basta que me peças, seja o que for, e todos eles serão imediatamente atendidos.

O místico ficou um pouco confuso e respondeu-lhe:

- Meu anjo, você chegou um pouco tarde. Houve um tempo em que precisei de muitas coisas e tive muitos desejos, mas isso agora acabou. Os meus desejos foram-se todos. Eu me aceitei e aceitei a forma como vivo e por isso vivo satisfeito com o que sou e tenho. Nem mesmo me importa mais se Deus existe ou não. Continuo a rezar mas por que isso me faz bem. Rezo como respiro. Por isso acho que chegaste tarde demais pois não tenho mais desejos.

- Mas Deus ofereceu-te esta graça – retorquiu-lhe o anjo. – Não podes ofendê-lo dizendo-lhe isso. Por favor, para meu e teu próprio bem, pede-me alguma coisa.

- O que é que eu tenho de pedir? – perguntou o místico. – Estou feliz e satisfeito com o que sou e tenho, como já te tinha dito. Para além disso tudo está perfeito.
Mas se insistes que eu peça algo, então diga a Deus que desejo continuar a permanecer sem desejos. Que me ofereça a completa ausência de desejos.

(história Sufi de autor desconhecido)

E você aí que lê este texto. Já alguma vez se sentiu assim? Provavelmente não pois a ausência de desejo e plena satisfação de todas as nossas necessidades é algo que muitos consideram impossível ou quase não Humano. Faz parte da condição Humana desejar sempre algo, pois a mente física oscila permanentemente entre o futuro que ainda não existe e o passado que já passou mas que se constitui em memórias que condicionam as nossas ações no presente, na medida em que as mesmas estejam associadas a emoções mais densas como o medo, a culpa e o pesar.

Quando nos focamos no momento presente, observando tudo o que nos rodeia, vivendo simplesmente a vida que nos é presenteado neste Mundo das formas. O desejo simplesmente não existe pois ele pertence ao futuro.

Com a frustração dos desejos não supridos, simplesmente acrescentamos mais bagagem emocional que vamos transportando ao longo da nossa vida até não podermos mais com ela. É essa muitas vezes a grande razão das nossas crises e dos nossos problemas.

A vida sem desejo não significa deixar procurar o nosso caminho e o nosso propósito. Simplesmente significa, como é referido no texto, apenas aceitar hoje e em cada momento a graça da vida tal como ela é. Viver sem desejo é encontrar a plenitude da Paz e da Felicidade e tal nunca poderá significar que se viva sem objectivos e sem o planeamento necessário... nem que seja para atingir este mesmo estágio de “não desejo”. Simplesmente significa que se vive, aceitando, cada momento que a vida nos dá na plenitude da Graça Suprema de Deus.

Reflita agora um pouco. Quantos desejos ainda têm. Saúde? Dinheiro? Reconhecimento Social? Fama?

Cada um de nós é apenas uma energia consciencial encarnada para co-criar no Mundo das formas, de acordo com a sua essência que é Deus. Por isso a melhor forma de existir é escolher viver o nosso momento presente com o sentir do Amor da nossa Alma. Sem desejos. Apenas escolhendo e co-criando em cada momento a experiência da própria existência.

Viva cada momento de cada vez no “Aqui e Agora”...

Fica bem.

(A Mónada)

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