Praticamente tudo o que fazemos é um acto do Ego. Quando quer ajudar outros, quando quer sentir-se especial, quando tem razão, quando sofre, quando critica, quando se queixa, quando tudo parece estar mal na sua vida, quando os outros não agem como espera, quando vê estupidez ou inteligência, quando comenta algo. Sempre o Ego em acção.
Já alguma vez viu uma daquelas pessoas loucas na rua, que falam em voz alta com elas próprias? Parece que estão a falar com alguém, mas não há mais ninguém. Pensamos que são loucas.
A ironia é que nós fazemos exactamente a mesma coisa! Só não falamos em voz alta, mas a vozinha que não se cala... Essa está sempre presente e sempre a tagarelar. Chama-se Ego. No fundo todos somos loucos. Desperdiçamos o momento presente para pensar no passado ou no futuro. O problema é que não há passado nem futuro: apenas o momento presente.
Há alguns dias estava com uma pessoa amiga que se queixava ininterruptamente. A sua vida estava um caos. Nada corria bem. Sentia-se só e abandonada, deprimida, angustiada... Sem me aperceber do que estava a fazer limitei-me a sorrir, sem dizer uma palavra. Foquei a atenção no Ser. Na verdade comecei por focar a atenção na sensação da minha respiração. Inspirava e expirava calma e profundamente. Depois foquei a atenção na sensação dos meus órgãos internos, nas minhas mãos, nos pés. E ela falava, e queixava-se, e chorava. A dada altura dei por mim a rir-me! Não conseguia parar de rir! Não me perguntem porquê. Para mim é relativamente fácil rir. Mas rir-me sem ter consciência de o estar a fazer, sem qualquer esforço, isso foi novidade.
A minha amiga calou-se uns segundos. E depois começou a rir-se também! A única coisa que dizia era “Isto não tem importância, pois não?!” E ria-se.
Algo semelhante aconteceu ontem à noite. Um meu querido amigo estava à beira das lágrimas, com um peso enorme no peito e um sofrimento emocional incalculável. Não sei o que passou pela minha cabeça, só me lembro de começar a rir. E este meu amigo, sem compreender porquê, começou a chorar. O choro transformou-se em riso e depois em gargalhadas! Como se de repente nada fosse assim tão importante.
Os nossos problemas, as situações dramáticas, são jogos do Ego. Incapaz de aceitar a sua mortalidade e com muito medo de ser descoberto, cria as situações mais inacreditáveis! E depois diz coisas como “porque ME fizeram isto a mim?!”
Preste muita atenção! Quando pensa algo como “porque ME acontece isto”, a quem é que se está a referir? Quem é o “mim”? Alguma vez se perguntou isto? A sensação de haver duas pessoas na sua mente? A verdade é que há duas pessoas: o Ego e o Ser. O Ser é a consciência acima do “porque ME acontece isto”.
O Ego é aquela vozinha que nos foi incutida desde muito jovens. A vozinha que quer ter razão, que necessita sentir-se superior ou inferior aos outros, que nunca se cala, que compara tudo, que analisa e compreende (e fica revoltada quando não compreende!).
O Ser é algo muito acima do Ego. O Ser aceita e não coloca rótulos. Para descobrir o Ser em si faça algo no presente sem colocar um rótulo. Eckhart Tolle ensina uma forma fácil de estar no presente. Pergunte-se a si mesmo “Ainda estou a respirar?”. Ao efectuar esta pergunta a sua atenção é focada na respiração e, por conseguinte, no momento presente. Faça-se esta pergunta muitas vezes ao longo do dia. Sinta o ar a entrar dentro de si, os pulmões a dilatar, a sensação de bem-estar produzida pelo ar e o relaxamento muscular enquanto exala.
Pode ainda estar presente descrevendo mentalmente o que está a fazer. Por exemplo “Eu agora estou a caminhar. Sinto a sensação do toque das calças nas pernas, sinto o piso debaixo dos meus pés. Primeiro um pé para a frente, depois o outro. Caminho agora.”
O Ego irá perguntar-lhe algo como “qual o objectivo desta conversa?!” Isto é uma questão típica do Ego. O Ego quer ter objectivos, para poder focar a atenção no futuro, na realização do objectivo, na insatisfação de nunca estar completo. Mas o objectivo desta conversa é precisamente estar presente. E quando estamos presentes o Ego não pode existir.
Já alguma vez reparou que quando está com alguém, no primeiro instante que vê a outra pessoa, a sua mente cria um rótulo? A outra pessoa tem um casaco feio. Ou está triste. Ou é muito alta. Ou está doente. Ou é idiota. Ou é chata. Ou é inteligente. Ou é...
A partir do momento que cria um rótulo será incapaz de sentir a outra pessoa. Irá julgá-la até ao fim. É esse o objectivo do Ego. E porque faz isto? Para se sentir inferior ou superior, com razão, claro!
A melhor maneira de impedir o Ego de colocar rótulos sobre os outros é começar a não colocar rótulos sobre outros seres. Por exemplo, delicie-se a observar uma planta, árvore, flor, animal, sem lhe dar um nome. Limite-se a sentir a sua presença. O seu Ser. Em vez de olhar para um pinheiro, sinta a árvore Ser. Verá que ao fim de uns dias é capaz de fazer o mesmo em relação ás pessoas à sua volta.
O sofrimento é mais um jogo do Ego. Todos temos uma história para justificar o ‘nosso’ sofrimento. E acabamos por acreditar na história e transportar o sofrimento connosco para onde quer que vamos. A verdade é que nós não somos o sofrimento. O sofrimento é apenas um aspecto de quem somos enquanto seres limitados. Se neste momento sofre (estou a falar de dor física), faça o seguinte:
Em primeiro lugar reconheça que você não é a sua doença. Pare de falar na doença quando está com outros. Peça ás pessoas que conhece que não lhe perguntem nem mais uma vez sobre o seu estado de saúde! Este passo é importante. (E é claro que o Ego não vai gostar mesmo nada! Como se atreve a não querer falar da MINHA doença?!) depois foque a sua atenção nas partes do seu corpo onde consegue sentir bem-estar. Pode ser apenas na cartilagem da orelha esquerda! Não se preocupe. Procure apenas a parte física de si onde consegue sentir bem-estar. Um sentimento de estar vivo e saudável. Para ultrapassar a dor tem que se render a essa dor. Aceite a dor. Sem qualquer emoção afirme algo como “ok, dor no braço, estás aí. Quando te cansares de estar aí tens toda a liberdade para partir.” Se a sua mente começar a queixar-se da dor então terá dois níveis de dor, em vez de apenas o nível físico da dor, irá ter que lidar com a dor ao nível da consciência. Mantenha a atenção nas partes do corpo onde encontra bem-estar. Comece por respirar calma e profundamente e depois pergunte-se “quem sou eu”?... Não responda à pergunta! Deixe que a resposta surja do nada.
Se está deprimido, saiba que a parte de si deprimida não é quem você é. Pondere esta questão: quem é o observador da sua depressão?
O que escolhe agora: ter razão ou ter paz? Não pode ter ambos. A escolha é sua.
Eu tinha o hábito de perguntar aos meus clientes, por forma a descobrir a causa do seu sofrimento, algo como “se não tivesse este problema, o que mudaria na sua vida”?
Descobri que este tipo de questão reforça ainda mais o Ego. Então agora pergunto apenas: “está pronto para acordar?” – esta questão significa apenas uma coisa: está pronto para descobrir os jogos do seu Ego? Está pronto para deixar partir todo o lixo emocional que carrega ás costas? Está pronto para aceitar o momento presente apenas?
E se alguma pessoa não está pronta para acordar, não há qualquer problema. Não gasto o meu tempo e energia e deixo-a simplesmente ser em vez de Ser.
Para si, desejo-lhe apenas que se permita tomar consciência dos jogos do Ego. Observe-se. Sempre que algo o afectar emocional ou mentalmente, saiba que é o Ego, não é o Ser. O Ser não precisa nunca de ter razão. O Ser não precisa de sofrer. O Ser não precisa de se sentir especial. O Ser simplesmente É.
Observe-se.
Hari Om Tatsat Jai Guru Datta
Já alguma vez viu uma daquelas pessoas loucas na rua, que falam em voz alta com elas próprias? Parece que estão a falar com alguém, mas não há mais ninguém. Pensamos que são loucas.
A ironia é que nós fazemos exactamente a mesma coisa! Só não falamos em voz alta, mas a vozinha que não se cala... Essa está sempre presente e sempre a tagarelar. Chama-se Ego. No fundo todos somos loucos. Desperdiçamos o momento presente para pensar no passado ou no futuro. O problema é que não há passado nem futuro: apenas o momento presente.
Há alguns dias estava com uma pessoa amiga que se queixava ininterruptamente. A sua vida estava um caos. Nada corria bem. Sentia-se só e abandonada, deprimida, angustiada... Sem me aperceber do que estava a fazer limitei-me a sorrir, sem dizer uma palavra. Foquei a atenção no Ser. Na verdade comecei por focar a atenção na sensação da minha respiração. Inspirava e expirava calma e profundamente. Depois foquei a atenção na sensação dos meus órgãos internos, nas minhas mãos, nos pés. E ela falava, e queixava-se, e chorava. A dada altura dei por mim a rir-me! Não conseguia parar de rir! Não me perguntem porquê. Para mim é relativamente fácil rir. Mas rir-me sem ter consciência de o estar a fazer, sem qualquer esforço, isso foi novidade.
A minha amiga calou-se uns segundos. E depois começou a rir-se também! A única coisa que dizia era “Isto não tem importância, pois não?!” E ria-se.
Algo semelhante aconteceu ontem à noite. Um meu querido amigo estava à beira das lágrimas, com um peso enorme no peito e um sofrimento emocional incalculável. Não sei o que passou pela minha cabeça, só me lembro de começar a rir. E este meu amigo, sem compreender porquê, começou a chorar. O choro transformou-se em riso e depois em gargalhadas! Como se de repente nada fosse assim tão importante.
Os nossos problemas, as situações dramáticas, são jogos do Ego. Incapaz de aceitar a sua mortalidade e com muito medo de ser descoberto, cria as situações mais inacreditáveis! E depois diz coisas como “porque ME fizeram isto a mim?!”
Preste muita atenção! Quando pensa algo como “porque ME acontece isto”, a quem é que se está a referir? Quem é o “mim”? Alguma vez se perguntou isto? A sensação de haver duas pessoas na sua mente? A verdade é que há duas pessoas: o Ego e o Ser. O Ser é a consciência acima do “porque ME acontece isto”.
O Ego é aquela vozinha que nos foi incutida desde muito jovens. A vozinha que quer ter razão, que necessita sentir-se superior ou inferior aos outros, que nunca se cala, que compara tudo, que analisa e compreende (e fica revoltada quando não compreende!).
O Ser é algo muito acima do Ego. O Ser aceita e não coloca rótulos. Para descobrir o Ser em si faça algo no presente sem colocar um rótulo. Eckhart Tolle ensina uma forma fácil de estar no presente. Pergunte-se a si mesmo “Ainda estou a respirar?”. Ao efectuar esta pergunta a sua atenção é focada na respiração e, por conseguinte, no momento presente. Faça-se esta pergunta muitas vezes ao longo do dia. Sinta o ar a entrar dentro de si, os pulmões a dilatar, a sensação de bem-estar produzida pelo ar e o relaxamento muscular enquanto exala.
Pode ainda estar presente descrevendo mentalmente o que está a fazer. Por exemplo “Eu agora estou a caminhar. Sinto a sensação do toque das calças nas pernas, sinto o piso debaixo dos meus pés. Primeiro um pé para a frente, depois o outro. Caminho agora.”
O Ego irá perguntar-lhe algo como “qual o objectivo desta conversa?!” Isto é uma questão típica do Ego. O Ego quer ter objectivos, para poder focar a atenção no futuro, na realização do objectivo, na insatisfação de nunca estar completo. Mas o objectivo desta conversa é precisamente estar presente. E quando estamos presentes o Ego não pode existir.
Já alguma vez reparou que quando está com alguém, no primeiro instante que vê a outra pessoa, a sua mente cria um rótulo? A outra pessoa tem um casaco feio. Ou está triste. Ou é muito alta. Ou está doente. Ou é idiota. Ou é chata. Ou é inteligente. Ou é...
A partir do momento que cria um rótulo será incapaz de sentir a outra pessoa. Irá julgá-la até ao fim. É esse o objectivo do Ego. E porque faz isto? Para se sentir inferior ou superior, com razão, claro!
A melhor maneira de impedir o Ego de colocar rótulos sobre os outros é começar a não colocar rótulos sobre outros seres. Por exemplo, delicie-se a observar uma planta, árvore, flor, animal, sem lhe dar um nome. Limite-se a sentir a sua presença. O seu Ser. Em vez de olhar para um pinheiro, sinta a árvore Ser. Verá que ao fim de uns dias é capaz de fazer o mesmo em relação ás pessoas à sua volta.
O sofrimento é mais um jogo do Ego. Todos temos uma história para justificar o ‘nosso’ sofrimento. E acabamos por acreditar na história e transportar o sofrimento connosco para onde quer que vamos. A verdade é que nós não somos o sofrimento. O sofrimento é apenas um aspecto de quem somos enquanto seres limitados. Se neste momento sofre (estou a falar de dor física), faça o seguinte:
Em primeiro lugar reconheça que você não é a sua doença. Pare de falar na doença quando está com outros. Peça ás pessoas que conhece que não lhe perguntem nem mais uma vez sobre o seu estado de saúde! Este passo é importante. (E é claro que o Ego não vai gostar mesmo nada! Como se atreve a não querer falar da MINHA doença?!) depois foque a sua atenção nas partes do seu corpo onde consegue sentir bem-estar. Pode ser apenas na cartilagem da orelha esquerda! Não se preocupe. Procure apenas a parte física de si onde consegue sentir bem-estar. Um sentimento de estar vivo e saudável. Para ultrapassar a dor tem que se render a essa dor. Aceite a dor. Sem qualquer emoção afirme algo como “ok, dor no braço, estás aí. Quando te cansares de estar aí tens toda a liberdade para partir.” Se a sua mente começar a queixar-se da dor então terá dois níveis de dor, em vez de apenas o nível físico da dor, irá ter que lidar com a dor ao nível da consciência. Mantenha a atenção nas partes do corpo onde encontra bem-estar. Comece por respirar calma e profundamente e depois pergunte-se “quem sou eu”?... Não responda à pergunta! Deixe que a resposta surja do nada.
Se está deprimido, saiba que a parte de si deprimida não é quem você é. Pondere esta questão: quem é o observador da sua depressão?
O que escolhe agora: ter razão ou ter paz? Não pode ter ambos. A escolha é sua.
Eu tinha o hábito de perguntar aos meus clientes, por forma a descobrir a causa do seu sofrimento, algo como “se não tivesse este problema, o que mudaria na sua vida”?
Descobri que este tipo de questão reforça ainda mais o Ego. Então agora pergunto apenas: “está pronto para acordar?” – esta questão significa apenas uma coisa: está pronto para descobrir os jogos do seu Ego? Está pronto para deixar partir todo o lixo emocional que carrega ás costas? Está pronto para aceitar o momento presente apenas?
E se alguma pessoa não está pronta para acordar, não há qualquer problema. Não gasto o meu tempo e energia e deixo-a simplesmente ser em vez de Ser.
Para si, desejo-lhe apenas que se permita tomar consciência dos jogos do Ego. Observe-se. Sempre que algo o afectar emocional ou mentalmente, saiba que é o Ego, não é o Ser. O Ser não precisa nunca de ter razão. O Ser não precisa de sofrer. O Ser não precisa de se sentir especial. O Ser simplesmente É.
Observe-se.
Hari Om Tatsat Jai Guru Datta
Emídio Carvalho
Texto excelente que me foi enviado sobre o EGO, que aqui reproduzo para todos vós...
Fiquem bem.
(A Mónada)
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