"O corpo físico é apenas um instrumento e ele executa o que lhe é ordenado pelos nossos pensamentos, pelos nossos sentimentos, pelos nossos desejos. Se um homem cortar um dos seus membros, não ficará livre dos desejos que o atormentam. Os membros limitam-se a executar as ordens que lhes vêm mais de cima.
Notai o seguinte: um membro pode dar pancadas e também pode fazer carícias; pode assassinar e pode salvar. Porquê acusar o braço? Ele não é culpado, não é responsável; dão-lhe ordens, boas ou más, e ele executa-as.
Imaginai que um homem decide cortar os seus órgãos genitais; ele já não poderá satisfazer os seus apetites e os seus desejos, mas isso não os fez desaparecer e esse homem pode deixar-se arrastar para actos loucos e criminosos. Já houve seres cuja fé ardente e cujas aspirações à pureza os levaram a mutilarem-se para, supostamente, se salvarem do Inferno. Mas eles ficaram noutro inferno, e muito mais ardente! Há que deixar os membros tranquilos: é no pensamento, no sentimento, na alma, que se deve fazer um trabalho de purificação."
Texto de Omraam Mikhaël Aïvanhov que ousamos comentar aqui nesta nossa nova viagem aos segredos da consciência Humana.
Há algumas religiões que apregoam a “mortificação da carne” como forma de se atingir a salvação ou o paraíso. Isto como é óbvio tem-nos conduzido a diversas formas de fanatismo religioso, que leva a diversos tipos de atrocidades e actos de terrorismo, como os perpetrados pelos homem-bomba.
De facto o autor deste texto pergunta-se e bem: “Porquê acusar o braço?” ou outra qualquer parte do nosso corpo? Para quê infligir qualquer tipo de dor ou sofrimento como forma de purificação da alma? Que culpa terá o corpo? Que culpa terá a alma?
Depois de todas estas perguntas… talvez estejamos a fazer a pergunta errada pois estamos a falar de “culpa”, de desejos, de vícios, de qualquer outro aspecto que é comandado pelos nossos pensamentos e obviamente que a solução nunca será de cortar a cabeça seguramente.
Sendo assim como poderemos resolver o problema de todas as coisas menos boas que encontrarmos no nosso Ser?
A resposta só pode ser uma… o encarar todas essas coisas… discernindo o que é verdadeiramente nosso e não induzido pelo nosso Ego ou pelo mundo externo. Dando entendimento às necessidades do nosso corpo e sabendo interpretar todos os desejos enquanto mensagens, sabendo sempre que quem decide e escolhe no final serei sempre eu.
Por isso a primeiro aspecto é deixar para lá a ideia que eu sou capaz de controlar tudo e todos, sobretudo o que me acontece, o que me apetece, o que eu mais desejo. Quando eu me rendo e me entrego a todos os acontecimentos da minha vida, automaticamente eu coloco-me como observador, o que está para além daquela “cena” que tenho de interpretar. Este simples facto fará ver-se a situação e todas as personagens envolvidas de outra forma e, a partir daí, poder fazer outro tipo de escolhas, para além daquelas para as quais estaria naturalmente programado.
Um outro aspecto é a entrega à minha essência, ou seja: Eu sei que quando me recolho ao mais profundo do meu Ser, aquela zona que emana alegria, serenidade, paz e amor, eu saberei o que fazer e como o fazer, mesmo que isso me possa parecer uma loucura, eu saberei que mesmo essa loucura eu estarei disposto a cometê-la. Por isso é aí que está o poder… o potencial de toda a criação.
Finalmente há que garantir a confiança na escolha ou decisão que tomar. Sei que a tomei com o coração em plenitude do seu amor, alegria e mansidão e por isso ao assumir as consequências também sei que tudo é perfeito e tudo será perfeito depois daquela “cena”, onde estou e em que sou a personagem principal. Saberei que mesmo que as consequências sejam nefastas, eu tinha de passar por elas para aprender e nesse caso aprender significa mudança e evolução. Também saberei que o tempo acabará por perfumar a lembrança desde que eu não guarde rancor, raiva ou culpa.
Por isso a purificação da nossa alma nunca passará pela mutilação dos nossos desejos, sejam de que tipo for, e muito menos pela dita “mortificação da carne”, mas antes pela nossa fé que tudo limpa e cura.
Fé é pois isto: Acreditar pela rendição ao que Eu Sou, pela entrega ao que Eu Sou e em confiar no que Eu Sou.
E nunca nos esqueçamos que Deus disse: Eu Sou o que Eu Sou… E tu és o meu filho muito Amado… Feito na tua intemporalidade à sua imagem e semelhança, porque simplesmente és Uno com ELE.
É este o caminho para a tua purificação enquanto Alma.
Sente-te sempre profundamente Amado… e em PAX…
Fica bem.
(A Mónada)
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