Recentemente li um texto falando sobre traição conjugal dizendo que se quisermos realmente perdoar, devemos esquecer o que aconteceu. Essa é uma visão comum sobre o que é o perdão e que acaba causando uma certa confusão.
Como é possível simplesmente "esquecer" o que houve? Só se estivermos com amnésia. As memórias não se apagam.
O processo do perdão acontece de outra forma que não é através do esquecimento. Também não se trata de não abordar o assunto ou colocar paninhos quentes. Essas são aparentes soluções que não resolvem o problema tendendo até a avolumá-lo.
O perdão acontece quando os sentimentos de mágoa, raiva e ressentimentos são dissolvidos completamente e quando isso ocorre, voltamos a ficar em paz. A nossa essência mais profunda é de uma paz completa. Esse estado fundamental da nossa essência que nunca é alterado. No entanto, ele pode ser temporariamente encoberto com nuvens de sentimentos negativos.
Perdoar significa voltar a ficar em paz. E isso só é possível quando essas nuvens negativas são dissolvidas.
Não adianta tentar "esquecer". O que na verdade queremos é livrarmo-nos do sofrimento que a memória causa. A memória ou o fato ocorrido em si não é o problema. O problema é sempre a nossa reação emocional que nos provoca sofrimento. Os fatos e as lembranças jamais poderão ser mudados.
Quando as pessoas tentam "esquecer", o que elas estão fazendo, na verdade, é reprimir as emoções e quando os pensamentos desconfortáveis surgem, elas tentam pensar em outras coisas para não sofrer mas isso não cura a ferida que está lá dentro guardada. Isso cria apenas a ilusão de que isso a fará desaparecer e como ainda há uma ferida emocional, mesmo não entrando em contato direto com ela, sofreremos suas consequências.
Essas emoções ficam armazenadas no inconsciente e provocam diversos efeitos no nosso corpo, pensamentos e ações.
Os ressentimentos e mágoas reprimidos provocam tensão no corpo, geram ansiedade, inquietação. Nossa fisiologia é afetada pelas emoções reprimida. Cada emoção é produzida quimicamente pelo nosso corpo (mesmo aquelas inconscientes) e alteram a produção das hormonas e da química do bem estar que nosso cérebro produz, quando estamos livres das emoções negativas.
Essa energia presa dentro de nós tem uma força oculta (não a percebemos) e influência a nossa forma de agir e de pensar. Mesmo que queira ficar bem com essa pessoa, aquela energia acabará por atrair para o conflito.
Só é possível libertar-se dessa força sabotadora, curando profundamente suas raízes, o que significa dissolver por completo as mágoas, raivas e ressentimentos.
O resultado dessa libertação emocional é o que chamamos de perdão.
Isto significa voltarmos ao nosso estado de paz natural. Sentimos alívio. Brotam sentimentos de compreensão, aceitação. Diminui a ansiedade e eleva a autoestima. O reflexo disso será visto na nossa forma de agir e pensar dentro do relacionamento.
Sempre que isso ocorre, tomamos consciência que perdoar é algo que tem a ver apenas connosco. É um processo interior e não depende da mudança das pessoas e circunstâncias. Nossas mágoas e ressentimentos são uma tentativa equivocada de atingir a outra pessoa, como se isso fosse trazer algum tipo de justiça para que possamos finalmente ficar em paz.
Mesmo quando conseguimos punir e atingir a outra pessoa, os ressentimentos ainda vão permanecer dentro de nós. Ou seja, o sofrimento que queríamos eliminar continua a existir e talvez agora, somado à frustração, à culpa, ao vazio e à sensação de perda de tempo que elas mesmas originarão.
Vivemos em um estado de confusão emocional que nos leva a caminhos completamente ineficazes de alcançar a paz e a felicidade.
O caminho mais simples é libertar-nos das nossas próprias emoções.
Realmente, não é fácil fazer isso sozinho.
Há formas e técnicas para tal...
Mas comece primeiro por se sentir muito amado, aceitando plenamente tudo o que sente...
Sinta o que verdadeiramente sente, tal como se tratasse de um jogo de atenção. E aceite-se tal como é.
Este é o primeiro passo para a cura e para o Perdão.
Fiquem bem...
(texto adaptado de um escrito por André Lima)
(A Mónada)
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