domingo, 27 de abril de 2008

A mente e a revelação para quem vive um derrame cerebral

A neuroanatomista Jill Bolte Taylor teve uma oportunidade que apenas poucos cientistas cerebrais poderiam desejar: Uma manhã, ela percebeu que estava a ter um enorme derrame cerebral. Conforme foi ocorrendo – ela foi sentindo as suas funções cerebrais desaparecer uma por uma: fala, movimento, compreensão – estudou e guardou na memória cada momento. Este é uma poderosa história de recuperação e consciência – de como o nosso cérebro nos define e nos liga ao mundo e aos outros...

Deixo-vos no post de hoje parte do seu testemunho... Para os que sabem Inglês e quiserem acompanhar todo este impressionante testemunho que teve lugar, em audiência pública para a TED, em Fevereiro de 2008 em Monterey, Califórnia. Podem desde já clicar aqui...


Agora leiam estas partes que destaco em particular:

"Na manhã de 10 de Dezembro de 1996 acordei e descobri que tinha uma desordem mental só minha. Uma veia tinha explodido na minha metade esquerda do cérebro. E no decurso das quatro horas seguintes eu assisti como o meu cérebro foi se deteriorando e perdendo a capacidade para processar toda a informação. Ao final da manhã da minha hemorragia eu não podia andar, falar, ler, escrever ou recordar nada sobre a minha vida. Basicamente tornei-me uma criança num corpo de mulher.

Se alguma vez observaram um cérebro humano é óbvio que existem dois hemisférios que estão completamente separados um do outro... Para os que entendem de computadores, as funções do nosso hemisfério direito são como um processador paralelo. Enquanto que as funções do nosso hemisfério esquerdo funcionam como um processador em série. Os dois hemisférios comunicam entre si através do corpo caloso, que é feito de cerca de 300 milhões de projecções axónicas contralaterais...

O nosso hemisfério direito é todo focado no momento presente. É todo sobre o aqui e o agora. O nosso hemisfério direito pensa em imagens e aprende kinesteticamente (usando a kinestesia) através do movimento do nosso corpo. Informação, na forma de energia, verte sobre nós simultaneamente através de todos os nossos sistemas sensoriais. E depois explode nesta enorme colagem de como este momento parece ser. Como este momento cheira e sabe, como o sentimos e como soa. Sou um ser de energia ligado a toda a energia à minha volta, através da consciência do meu hemisfério direito. Somos seres de energia ligados uns aos outros através da consciência do nosso hemisfério direito como se fossemos uma única família humana. E aqui e agora, somos todos irmãos e irmãs neste planeta, e estamos aqui para fazer do mundo um lugar melhor. E neste momento somos perfeitos. Somos tudo. E somos maravilhosos.

O meu hemisfério esquerdo é um lugar bem diferente. O nosso hemisfério esquerdo pensa de forma linear e metódica. O nosso hemisfério esquerdo é completamente focado no passado, e completamente focado no futuro. O nosso hemisfério esquerdo está desenhado para pegar nessa colagem do momento presente. E começar a escolher detalhes e mais detalhes e mais detalhes acerca desses detalhes. E depois categoriza e organiza toda essa informação. Associa isso a tudo o que aprendemos no passado e projecta para o futuro todas as nossas possibilidades. E o nosso hemisfério esquerdo pensa em linguagem. É aquele burburinho permanente no cérebro que me liga a mim, e ao mundo interno, ao mundo externo. É essa pequena voz que me diz: "Olha, tens de te lembrar de comprar bananas a caminho de casa, e comê-las de manhã.". É essa inteligência calculadora que me lembra quando tenho de lavar a roupa. Mas, talvez o mais importante, é essa voz dentro de mim que diz: "Eu sou. Eu sou.". E é imediatamente quando o meu hemisfério esquerdo diz-me "Eu sou.", aquele que me torno separado. Torno-me um individuo único e singular separado do fluxo de energia que circula à minha volta e separado de ti.

E foi essa parte do cérebro que perdi na manhã do derrame.

Perco o meu equilíbrio e estou apoiada de encontro à parede. E olho para o meu braço e percebo que não consigo mais definir os limites do meu corpo. Não consigo definir onde começa e onde acaba o meu corpo. Porque os átomos e as moléculas do meu braço estão fundidos com os átomos e moléculas da parede. E a única coisa que conseguia detectar era essa energia. Energia. E pergunto-me a mim própria: "O que se passa de errado comigo, o que é que está a acontecer?" E nesse momento, o burburinho do meu cérebro esquerdo cala-se completamente. Como se alguém tirasse um controlo remoto e carrega-se no botão de "mute" e — silêncio total.

A princípio para mim foi chocante encontrar-me dentro de uma mente silenciosa. Mas fui imediatamente cativada pela magnificência da energia que me rodeava. E porque Não conseguia mais identificar as limitações do meu corpo sentia-me enorme e expandida. Senti-me una com toda a energia que existia, e era maravilhoso lá estar.

E subitamente o meu hemisfério esquerdo voltou a ficar on Line e diz-me: "Atenção! Temos um problemas, temos um problema, precisamos de ajuda!" E por isso eu pensei, “OK, OK, tenho um problema”, mas então imediatamente deslizo para o estado fora da consciência, refiro-me afectuosamente a esse espaço como a "La La land".por ser maravilhoso lá estar. Imaginem o que seria estar completamente desligado do burburinho do vosso cérebro que vos liga ao mundo exterior. Então lá estava eu naqule espaço e todo o stress relacionado com o meu trabalho tinha desaparecido. Sentia-me mais leve no meu corpo. Imaginem se todas as relações com o mundo exterior e todas as tensões relacionadas com elas tivessem desaparecido. Senti uma sensação de paz. E imaginem o que é perder trinta e sete anos de bagagem emocional! Sentia-me eufórica. E a euforia era linda — e então o meu hemisfério esquerdo voltou a ligar-se e diz: "Olha! tens de prestar atenção, temos de pedir ajuda." E eu penso: "Tenho de pedir ajuda, tenho de me focar." Por isso saio do chuveiro e visto-me mecanicamente e começo a andar no meu quarto e a pensar "Tenho de ir para o trabalho, tenho de ir para o trabalho. Será que posso conduzir?".

E nesse momento o meu braço direito fica totalmente paralisado do meu lado. E aí eu compreendo: "Oh meu deus! Estou a ter um derrame! Estou a ter um derrame!"...


...Um pouco mais tarde estou na ambulância a caminho do hospital, através de Boston, para o Mass General Hospital. E enrolo-me numa posição fetal. E como um balão cujo último ar acabou de sair, de sair do balão, sinto a minha energia a ser elevada e o meu espírito a se render. Nesse momento eu soube que já não era o coreógrafo da minha vida e que ou os médicos me salvavam o corpo e me davam uma segunda oportunidade para viver ou este seria o meu momento de transição.

Quando acordei mais tarde nessa tarde, fiquei surpresa de ainda estar viva. Quando senti o meu espírito se render eu disse adeus à vida e a minha mente estava agora suspensa entre dois planos opostos da realidade. Estímulos que chegavam através do meu sistema sensorial eram dor pura. A luz queimava-me o cérebro como fogo e os sons eram tão altos e caóticos que não conseguia distinguir as vozes dos barulhos de fundo. Só queria fugir dali porque não conseguia identificar a minha posição no espaço sentia-me enorme e extensa, como um génio liberto da sua lâmpada. E o meu espírito navegava livre como uma gigante baleia nos mares da euforia silenciosa. Harmónica. Lembro-me de pensar que não havia forma de alguma vez conseguir enfiar aquele eu enorme Ser dentro do meu pequeno corpo.

Mas percebi: "Ainda estou viva! Ainda estou viva e encontrei Nirvana. E se encontrei Nirvana e ainda estou viva, então toda a gente que está viva pode encontrar Nirvana." E visualizei um mundo cheio de beleza, paz, compaixão, e pessoas amorosas que sabem que podem vir a este espaço sempre que quiserem. E que podiam com propósito escolher ir para o hemisfério direito ou esquerdo e encontrar este lugar. E percebi que tremendo presente esta experiência podia ser, que toque de génio isto podia ser para nos permitir viver a nossa vida. E isso motivou a minha recuperação.

E duas semanas e meia depois da hemorragia os cirurgiões entraram e removeram o coágulo do tamanho de uma bola de golfe que estava a pressionar o meu centro de linguagem....

Então quem somos nós? Somos a força viva do universo, com destreza manual e duas mentes cognitivas. E temos o poder de escolher, momento a momento, quem e como queremos estar no mundo. Aqui e agora, posso mover-me para a consciência do meu hemisfério direito onde somos – onde sou – a força viva do universo, e a força poderosa de 50 triliões de maravilhosos génios moleculares que fazem a minha forma. Uno com tudo o que é. Ou posso escolher mover-se para a consciência do meu hemisfério esquerdo. Onde me torno um indivíduo individual, sólido, separado do fluxo, separado de ti. E sou a Dra. Jill Bolte Taylor, intelectual, neuroanatomista. Esses são os “nós” dentro de mim.

Quem escolhes ser? Quem escolhes ser? E quando? Eu acredito que quanto mais tempo escolhermos usá-lo e navegarmos profundamente na paz dos circuitos do nosso hemisfério direito, mais paz projectamos para o mundo e mais pacífico será o nosso mundo. E pensei que esta era uma ideia digna de ser partilhada... "


Fiquem bem

(A Mónada)

2 comentários:

Chama Violeta disse...

Olá querido amigo e irmão estelar!

Obrigada por esta partilha e pela tradução...
Fica na paz e nos encontramos no astral!

Jinhos de luz!

(A Mónada) e MARLIZ disse...

Obg Chama irmã luminar... a tradução que aqui deixei é apenas uma parte da transcrição Portuguesa que encontrei no site da TED. Apenas me limitei a adaptar e a corrigir o Português.

Abreijos Luminares!