segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Bocejar


Um acontecimento interno súbito, que estica os músculos de dentro para fora, o bocejar é uma forma revigorante de exercício para pessoas que são natural, e imperdoavelmente, preguiçosas. Como programa de fitness, é, de facto, bastante eficiente.

Ao princípio sentimos o bocejar como um minúsculo vórtice de baixa pressão algures no meio da cabeça. Logo se espalha por todo o corpo num movimento em espiral, como um remoinho: dilata a sua faringe, laringe, narinas e canais brônquicos; erguem-se as sobrancelhas e os ombros; o diafragma baixa, para permitir que os seus pulmões expandam; obrigam o coração a correr e aumenta o fluxo de sangue ao cérebro. Depois, numa reviravolta dramática, regressa à sua cabeça, onde consegue que a sua língua se recolha e força as mandíbulas a moverem-se para os lados e para baixo.

Tudo isto acontece em menos de seis segundos. Quando acaba, sente-se um pouco abananado, tavez, mas muito mais maleável.

É crença comum que o bocejar é a resposta do nosso corpo a um excesso de dióxido de carbono no sangue. Quando bocejamos, libertamos uma onda de oxigénio para o cérebro. Mas alguns neurologias discordam. Sujeitos a quem foram administradas baforadas de oxigénio continuam a bocejar.


A propósito já bocejou hoje?Um reflexo misterioso, o bocejar parece estar ligado à saúde: pessoas que estão gravemente doentes, ou com psicoses agudas, raramente sentem necessidade de escancarar o rosto desta maneira.

O bocejar liberta um funil de energia, que viaja pelo seu corpo, desentupindo túneis parcialmente bloqueados – os canais auditivos, as passagens lacrimo-nasais e os canais linfáticos, assim como ventiladores maiores, como a traqueia e os pulmões. Pode sentir os ouvidos a estalar à medida que a pressão nivela entre este labirinto interno e o mundo exterior.

Bocejar é de tal maneira agradável que é contagioso – outro enigma científico. Poucas pessoas conseguem resistir à visão de alguém a deixar cair o queixo sem se sentirem de imediato compelidas a fazer o mesmo. Às vezes a simples menção da palavra bocejar numa conversa é suficiente para lhe dar cócegas no nariz, pôr os seus olhos a lacrimejar, e fazer o interior da sua boca esticar-se como um elástico.

Uma explicação para este fenómeno poderia ser de que, afinal, estamos todos interligados entre nós. É quase como se a raça humana fosse um enorme sistema de ventilação para as almas.

Bocejar em público não é aconselhável. De repente pode assim dar início a uma reacção em cadeia de proporções tremendas.


Mas sempre que puder e estiver sozinho boceje. Afinal até faz bem à saúde.

(texto adaptado de autor desconhecido)


Fiquem bem.

(A Mónada)

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