sábado, 11 de novembro de 2006

Amor

A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança atrai a insegurança. Já encontrastes alguma vez segurança em alguma de vossas relações? Já?

A maioria de nós quer a segurança no amar e no ser amado, mas existirá amor quando cada um está à procura da própria segurança, como seu próprio caminho? Nós não somos amados porque não sabemos amar.

Que é o amor? Esta palavra está tão carregada e corrompida, que quase não tenho vontade de empregá-la. Todo a gente fala de amor - todas as revistas e jornais… Amo a minha pátria, amo o meu rei, amo um certo livro, amo aquela montanha, amo o prazer, amo minha esposa, amo a Deus.

O amor é uma ideia?...

Quando dizeis que amais a Deus, que significa isso? Significa que amais uma projecção de vossa própria imaginação, uma projecção de vós mesmo, revestida de certas formas de respeitabilidade, conforme o que pensais ser nobre e sagrado; o dizer "Amo a Deus" é puro contra-senso. Quando adorais a Deus, estais adorando a vós mesmo; e isso não é amor…

Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher…

Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor? O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor a outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familiar ou não familiar? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção? O amor é prazer e desejo? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos ideias a respeito do amor, ideias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos…

O amor não é produto do pensamento, que é o passado. O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor. O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado.
O amor é sempre o presente activo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.

Se não tendes amor - não em pequenas gotas, mas em abundância - se não estais transbordando de amor, o mundo parecerá um desastre. Internamente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar?

Também, não podeis ter o amor se não tendes a beleza. A beleza não é uma certa coisa que vedes - não é uma bela árvore, um belo quadro, um belo edifício ou uma bela mulher - só há beleza quando o vosso coração e a vossa mente sabem o que é o amor. Sem o amor e sem aquele percebimento da beleza, não há virtude, e sabeis muito bem que tudo o que fizerdes - melhorar a sociedade, alimentar os pobres - só criará mais malefício, porque, quando não há amor, só há fealdade e pobreza em vosso coração e vossa mente.

Mas, quando há amor e beleza, tudo o que se faz é correcto, tudo o que se faz é ordem. Se sabeis amar, podeis fazer o que desejardes, porque o amor resolverá todos os outros problemas.

Alcançamos, assim, este ponto: Poderá a mente encontrar o amor sem precisar de disciplina, de pensamento, de coerção, de nenhum livro, instrutor ou guia - encontrá-lo assim como se encontra um belo pôr-do-sol?

O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de toda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente.

O amor não conhece oposto, não conhece conflito.

Mas, não sabeis como chegar a essa fonte maravilhosa e, assim, que fazeis?

Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade?

Nada, absolutamente.

Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa?
Significa que não estais procurando, nem desejando, nem perseguindo…

Há, então, O AMOR.


Fonte: Krishnamurti

Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix -



Um texto adaptado. Sem mais comentário.

Fiquem bem.


(A Mónada)

6 comentários:

Unknown disse...

Excelente e bonito.

Onda Encantada disse...

Li isto... e adorei!
'Quando der por si a deslizar para uma situação de espera... saia dessa. Venha para o momento presente. Limite-se a ser e aprecie esse facto. Se estiver presente, nunca haverá possibilidade de esperar por nada. Assim, na próxima vez que alguém disser "Desculpe que o fiz esperar", poderá responder "Não faz mal, não estava à espera. Estava só aqui a divertir-me, a alegrar-me a mim".'

Trata-se na verdade de viver o AGORA, e isso é, também, saber AMAR. Cada momento, cada palavra, cada olhar, cada sorriso, em cada momento.
E entender que AGORA, é que importa. Não o que me chateei ontem, não o que posso ter/não ter amanhã. Se Hoje Amo, sou feliz.

Bem hajas por postares este texto lindo.

(A Mónada) e MARLIZ disse...

Obg aos dois pelos comentários.

Fiquem bem.

(A Mónada) e MARLIZ disse...

Psicologia: Já lá estive e deixei comentários a mais... Passei-me mesmo.

Beijos para ti tb.

Fica bem.

Anónimo disse...

Permite que te recomende, como complemento do que é dito, a leitura, também de A ARTE DE AMAR by Erich Fromm.

Procura no google que encontras.

rosario

Anónimo disse...

Demasiado esotérico e longo. O amor tem de ser carnal ou então é apenas uma amizade bonita.No final a míuda fica sempre com o pintas e o amigo a chuchar no dedo...